A elevação da taxa básica de juros (Selic), pela quarta vez consecutiva este ano, pode agravar o endividamento dos brasileiros, segundo economistas. De acordo com os últimos dados do Banco Central (BC), 58.5% da renda das famílias está comprometida com alguma dívida. Ou seja, a cada R$ 100 que o brasileiro recebe, R$ 58,50 vai para o pagamento de algum débito em aberto. É o maior porcentual desde que o BC passou a acompanhar o dado, em 2005.
“A alta dos juros pode agravar esse quadro, especialmente as taxas que respondem mais forte à Selic. Nesse caso, as do crédito rotativo (como os do cartão de crédito), que as pessoas tomam no impulso, sem pensar e acabam sendo mais perigosos”, afirma Marcela Kawauti, economista da Prada Assessoria.
Ela diz que o risco do endividamento virar inadimplência é grande, pois muitas famílias ainda dependem de incentivos do governo concedidos ao longo da pandemia, como o auxílio emergencial. “A gente não vê a economia crescendo sem esse tipo de injeção. O endividamento pode virar inadimplência e frear o consumo”, diz Marcela.
A taxa básica da economia teve alta de 1 ponto nesta quarta-feira, indo para 5,25% ao ano, no maior aperto monetário dos últimos 18 anos, e deve subir mais 1 ponto em setembro segundo a autoridade monetária.
O avanço na Selic é parte do movimento de retirada de estímulos da atividade econômica pelo BC para fazer frente à escalada da inflação. No ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) levou a taxa à mínima histórica de 2% ao ano, com o objetivo de estimular a recuperação da economia após a pandemia de Covid-19.
Taxas de empréstimo mais altas
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que a partir de agora vai ser importante acompanhar o impacto da alta dos juros no spread bancário, que é a diferença entre os juros que o banco cobra por um empréstimo e paga por um investimento. Com a Selic mais alta, o rendimento de poupança e CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) também sobe. A dúvida é se o custo dos empréstimos também vai seguir essa tendência.
“Num momento em que a recuperação do mercado de trabalho ainda está lenta e com a renda real das pessoas em queda por causa da inflação, o custo do crédito mais elevado pode ser impeditivo para uma retomada neste momento. Tira um pouco de estímulo para o consumo, especialmente em 2022”, afirma o economista.
Fonte : CNN Brasil.